quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Eu e Jane Austen

Tenho uma relação um tanto engraçada com Jane Austen. Escrevo isso depois de assistir, pela quinta vez, a adaptação cinematográfica de Orgulho e Preonceito, livro que li, também, por cinco vezes. Eu o li, pela primeira vez, quando estava no Ensino Médio. Eu devorei toda a bibliografia da escritora, porém, o meu preferido continua sendo a história da família Bennet. Se você me perguntar sobre o enredo, direi que não é nada que você já não tenha visto em comédias românticas por aí. No entanto, esta obra tem três elementos cruciais que faz eu me apaixonar por ela e que decidi elencar aqui:

Keira Knightley como Elizabeth Bennet, no filme Orgulho e Preconceito (2005)


1 - Elizabeth Bennet
Apesar de viver no século XVII, a segunda filha da família Bennet não é nada desmiolada. Ela é inteligente, tem suas próprias opiniões, sabe que não é tão bonita quanto a sua irmã mais velha, Jane, mas, mesmo assim, é tão atraente quanto. E, diferentemente do que muitas mocinhas por aí, ela tem defeitos: é um tanto preconceituosa (no sentido de sempre acreditar apenas nas primeiras impressões) e só perdoa qualquer ofensa a muito custo. Só pelo fato de não ser perfeita, Lizzie ganhou de todas as heroínas.

2 - Os diálogos
Como era comum na época, as pessoas usavam palavras bastante polidas e construções mais elaboradas. Nem por isso, o sarcasmo e a ofensa ficava de lado. O mais legal de Orgulho e Preconceito é, a cada vez que você o lê, você descobre mais uma frase irônica ou ofensiva escondida por trás de palavras tão bonitas.

Carey Mulligan (à esquerda) e Jena Malone como Kitty e Lydia

3 - O ridículo
Você sente vergonha. Muita vergonha das irmãs mais novas de Elizabeth. Você quer trucidá-las, chacoalhá-las até elas perceberem o quão retardadas são. E, o melhor, se você realmente fizesse isso, elas nem ligariam, pois elas estão crentes que estão fazendo o que há de mais normal. Elas não estão nem aí para você. E isso te irrita o tempo todo. Uma curiosidade é que Carey Mulligan, atriz que ganhou destaque após ser indicada ao Oscar de melhor atriz por Educação, estreou no cinema como a Kitty, uma das irmãs desmioladas.

Eu poderia citar, também, o Mr. Darcy. No entanto, como alguns críticos dizem por aí, o personagem é um tanto plano em comparação com a protagonista, Elizabeth. Mas, se quiser saber, mais ou menos, como ele realmente é, tome como parâmetro o Mr. Darcy de O Diário de Bridget Jones, livro um tanto bobo que tem referências muito claras à história de Jane Austen. Outra obra mais recente que é inspirada em histórias da autora é As Patricinhas de Beverly Hills, filme baseado no livro Emma, de 1815.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

breve #22

"Haja hoje para tanto ontem". É a sabedoria das ruas, pichada em um muro na Consolação, de frente à magnitude da avenida Paulista. Haja presente para tanto passado, por favor.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

entre copos

No happy hour de uma quinta-feira.

Risadas

x:...que nem em Friends, quando um faz xixi na perna do outro para curar queimadura de água-viva.

y: Pode crer! (risos)

x: O melhor é o povo que faz xixi em si mesmo para tentar se esquentar, quando está muito frio (risos)

y: Ah, mas isso é mó mentira, depois do quentinho tudo fica gelado!

x: Né, meu? Mó porcaria isso.

Silêncio.

x: Quem vê acha que a gente já fez xixi na própria perna para tentar se esquentar, hehehe.

y: Quem vê pensa, né? Que isso! hehehe. (Olha para o lado)

Constrangimento e fim.

sábado, 14 de agosto de 2010

good memories

O sol estava morno. A multidão, em frente ao palco, sorria enquanto a música tocava. Não ensurcedora, mas tocando o coração. As batidas, muito bem programadas, faziam balançar o corpo. Nada de tumulto, apenas amigos, cervejas para o alto, óculos de sol e sorrisos. Uma tarde de setembro, ao som de Fujiya & Miyagi, e tudo parecia certo. Estava tudo me seu lugar e éramos todos jovens numa tarde de sábado. Depois do festival, uma festa na casa de alguém, Augusta acompanhada por um mendigo, dono de um filhote vira-lata que, brincando, rasgara a minha meia-calça. O tipo de coisa que apenas eu lembro, que os meus amigos, que estavam comigo naquele dia, nem devem dar conta de tantas coisas boas e pequenas me proporcionaram. A alegria de um sábado à tarde, em um festival de música, no Parque Ibirapuera. Um festival que, por ter sido de graça, quase ninguém mais lembra dele. E hoje, eu vejo uma foto em um álbum do orkut, e sorrio. Foi naquele dia que, mesmo eu estando no início do fim de uma fase, tudo parecia estar do jeito que eu sempre quis. Boa música, boa companhia e sol da tarde. Tive tudo, por um dia.

Para ler escutando:


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

and she fights for her life...

Aquelas manhãs em que o sol brinca com o seu rosto sonolento. Que o ar, mesmo alegre, é friozinho daquele jeito fanfarrão, te chamando para brincar com a neve, com a grama molhada, com a terra gelada. O cabelo bagunçado, os olhos meio remelentos, o sorriso renovado. O dia perfeito. Os sonhos são sempre bons, mas são das manhãs que eu mais sinto saudade.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vagão. 23h.

O álcool lhe dera aquela zonzera na cabeça e lhe secara a boca. O trem balançava ao som da música que lhe enchia o cérebro zoneado. Os olhos, embaçados, estáticos, estavam muito além do que aquele vagão sujo. Era tudo tão torto, cheio de curvas brilhantes que lhe fazia perder a concentração. Se segurou no banco quando viu que, sem querer, tombara um pouco para o lado do moço que estava sentado ao seu lado. O barulho irritava mas aquela dormência nas articulações o fazia esquecer do som ultrajante. O álcool aspirava todos os pensamentos subjetivos e deixava somente os mais claros. Potencializava os sentimentos, lhe enchia os olhos de alegria e de tristeza, tudo ao mesmo tempo. Não se importava se as pessoas estavam olhando-o desconfiado. Era quinta-feira, os olhos injetados entregava a farra que tivera há pouco com alguns amigos. Amanhã, mais um dia cheio de obrigações. Mas, por enquanto, a zonzera o fazia esquecer que, mais uma vez, outra vez, estaria pegando o metrô no sentido contrário, ouvindo aquela mesma playlist. Gostava daquela sensação, mas ela a incomodava. Gostava de sentir as coisas como elas eram e ele sabia, apesar daquele teimosia típica de bêbado, que estava enxergando o mundo, naquele momento, diferente do que enxergava normalmente. Estava tudo mais simples, mais claro, mais vivo dentro de si. Estava feliz, apesar de algumas adversidades. Mas estava solitário, apesar do vagão cheio às 23h. Era a zonzera, era a vontade de chegar em casa e tirar a roupa do trabalho. Era a felicidade de ter passado bons momentos, era o frio dos lençóis amassados e do cinzeiro lotado. E ela não estaria lá para rir ou dar bronca por causa do seu bafo alcoolizado. Ela estava em outro lugar, além de seu toque. Além de sua bebedeira.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

breve #21

A playlist do meu mp3 player faz eu lembrar desde a época em que eu me entreguei a você, em que eu tentei resistir a você e em que eu comecei a amá-lo. E, a cada parte, eu choro de nostalgia, eu choro de tristeza e eu choro de amor.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Aedh Wishes for the Cloths of Heaven

Had I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

William Butler Yeats

terça-feira, 29 de junho de 2010

breve #18

Muitos antes de refletirem os meus desejos, os meus sonhos refletem os meus medos

cigarros, música e o contemplação

às vezes ele fazia questão de segurar a mão da melancolia. estimulado pela música que tocava no rádio, tentava pensar em outros coisas além dos problemas profissionais e amorosos. ao apagar um cigarro, seu corpo já pedia outro. era aquela ânsia de mergulhar em si, de sentir-se aprofundar. a fumaça passava por seus pulmões e o fazia tocar o imundo. ao deixar-se levar pelos males, conseguia se enxergar melhor. era assim que funcionava a sua meditação. tragava, expirava, tragava, apagava. o cheiro de tabaco despertava sensações familiares. era o cheiro que exalava do cabelo daquela moça. olhos lânguidos, pele branca, cabelos levemente loiros. não era bonita, mas algo em seu jeito de olhar, em seu sorriso. levantara-se. o corpo magro dentro de uma calça jeans surrada, descalços. as mãos tomaram a posição inicial e rodopiou. o passo não dera certo, mas, também, há quanto tempo não dançava? aumentou o volume da música. Interpol no rádio, melancolia no coração. acendeu mais um cigarro e deixou-se levar por sua contemplação.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Devaneio de uma noite de verão

Ele chamou a atenção dela por causa do livro que lia: Parque dos Dinossauros. A partir daí, a menina, vestida em um vestido florido, não conseguiu deixar de observá-lo. Ele a encantou pela maneira que deixava os ombros caírem enquanto era sacolejado pelo movimento do trem. Compenetrado, o rapaz, dos cabelos negros e olhos tímidos, não percebeu que tinha a atenção completa da garota de seus sonhos. E não notou como ela sorriu, achando graça da forma como ele tentou pegar o marca páginas que deixou cair. A garota pensou em elogiar sua camiseta, aquela da vaca sendo abduzida, mas a timidez lhe amarrou no banco. Em lados opostos do vagão, não se tocavam. Quando levantou o rosto, sentiu como se alguém o tivesse cutucado. Sorriu para ela quando percebeu que estavam sozinhos naquele compartimento. Eram cúmplices sem ao menos se conhecerem. A imaginação voou longe e a garota do vestido florido levantou, o pegou pela mão e começaram a dançar ao meio dos balões, com a batida de The Smiths ao fundo. Some girls are bigger than others... Aprenderia a tocar piano só para mexer as mãos daquele jeito charmoso. As mãos dele, a garota viu, eram de pianista, como as suas. Se apaixonou instantaneamente por elas, queria tocá-las. Estação Patriarca. Moça, chegamos ao fim da linha... Os mesmos olhos tímidos, Parque dos Dinossauros embaixo do braço. Foi apenas um sonho. Sabrina, sua vida não é um filme protagonizado pela Zoel Deschanel.

Apanhado

Vou escrever um diário endereçado ao futuro. Ele será a máquina do tempo que me ligará à posterioridade. Vou escrevê-lo para os meus netos, bisnetos. Sem desenho na capa, sem pauta, largarei a minha alma em palavras e rabiscos.

~*~

Desesperar-me um pouco diante da solidão não me faz mais fraca que ninguém, me faz humana do jeito mais livre que posso ser.

~*~

O corredor era longo demais para percorrer sozinho. Tinha saudades daquele tempo em que, sentar ali e rir, era um descanso pr'alma. Hoje está todo mundo ocupado demais para isso. Ela se sentiu sozinha diante daquelas paredes cinzentas.

~*~

Sinto ciúmes de seu passado, presente e futuro. Sinto ciúmes de todos os seus tempos verbais e de todas as suas flexões do verbo amar. Quem me dera que todas elas fossem para mim.

~*~

Pensar que o amor é a única coisa realmente boa que o ser humano tem a dar ao mundo faz com que eu me sinta egoísta por querer ser a única e querer ter um único.

~*~

Quero um desenho cheio de marcas, palavras, desenhos. Quero um caderno que ninguém possam ler a não ser eu. Quero tornar palpável a minh'alma em palavras.

~*~

Sardas são pontos de personalidade marcados em pele

~*~

Este mundo é carnal demais pra mim. Sou imaterial demais, sou pura incerteza. Talvez, de fato, eu não pertença a este mundo, eu não pertença a nada. Sinto-me só em minha diferença.

~*~

Quem me dera morrer de mojito. Mergulhar-me em rum, hortelã e soda. Sentir-me quente e fresca por dentro, naquela pista de dança vazia. Quem me dera poder ler a sua mente.

~*~

Sometimes I get nervous, when I see an open dor. Are we human or are we dancer?

~*~

Na ponta da pena estremece os corações dos tolos.

~*~

Receber elogios pecualiares era a sua especialidade. O primeiro foi de um professor de História da Arte, dissera que seu rosto parecia o de uma pintura renascentista. Depois, o dono de um sebo exclamou que seu rosto parecia ter saído de um quadro de Da Vinci. Por fim, o gótico lhe dissera que seus traços tinha tons vitorianos. No ônibus, por estes dias, lembrou, então, que, quando criança, um médium dissera que o seu espírito era antigo demais. Talvez, ela realmente não pertencesse àquela época.

~*~

Não entendia um mundo em que aquela mesma pessoa que se lamentava por passar o dia dos Namorados sozinha, nos outros dias do ano orgulhava-se do número de corações em que pisou.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Nos meus sonhos eu fujo
Faço as malas e sumo
Vou andando devagar pra você me alcançar
Viro numa esquina e paro no mesmo lugar
Em que eu te conheci
Mas você não estava lá dessa vez
Para me dizer pra onde devo ir
Eu sei que quando anoitece
Nos teus sonhos também estremece
A vontade de fugir
Então siga por ali
Vire aquela esquina e vamos partir

Fuga nº1 - Thiago Pethit

quarta-feira, 19 de maio de 2010


Eu tive um balão...

Talvez, a última vez que me senti verdadeiramente feliz foi quando eu ganhei um balão. Aos 20 anos, saía de um dia desastroso no trabalho quando me deparei com um moço me esperando e, surpreendentemente, segurando um balão rosa. Não consegui olhar para nenhum outro lugar além daquela bola flutuante. Senti, assim, sem querer, os meus olhos brilhando diante de uma cena tão improvável. Depois, dei risada ao ver o marmanjo pulando para conseguir resgatar mais dois balões que estavam perdidos no teto da entrada do prédio. Fui caminhando até o ponto de ônibus ostentando três bolas rosas. Andava com o peito estufado e não conseguia tirar os olhos deles. Lembrei-me da infância, das enormes bolas que eu comprava quando ia ao Parque do Carmo, do meu medo de bexigas, dos meus dias mais pueris. "Eu os peguei para que você pudesse soltá-los". Comprei um alfajor e, enquanto atravessava a avenida Cidade Jardim, decidi dar a liberdade ao trio que alegrou o meu domingo desastroso. No canteiro central, eu os vi flutuar até bem alto, até eles fugirem do alcance da minha visão debilititada pela miopia. Enquanto terminava o meu doce, o moço apontava para o céu dizendo que ainda conseguia vê-los. Já eu não me importava mais aonde eles estavam, continuei deliciando-me com a lembrança de como tinha sido feliz enquanto tive aqueles três balões rosa.


terça-feira, 18 de maio de 2010

olhos de ressaca


Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.

Dom Casmurro - Machado de Assis

Não sei se tenho feições muiito peculiares, mas ouço os elogios mais inusitados. E gosto deles. O mais comum é dizerem que pareço uma pintura renascentista ou uma mulher vitoriana. Segundo uma amiga, é tudo culpa das bochechas salientes e da boca meio bicuda. A primeira vez que ouvi algo do tipo foi no meu segundo ano de colegial, de um professor de História. Depois a história se repetiu em um sebo da Augusta, quando o vendedor disse que eu parecia uma pintura do Da Vinci. Porém, o elogio que guardo com mais carinho é o de um amigo, que disse que tenho olhos de ressaca, assim como os da Capitu. Não acredito, acho os meus castanhos tão sem vida, mas gosto de pensar que posso ser tempestuosa e tragante, tanto quanto a moça que enfeitiçou Bentinho. Tá bom que não sou a maior fã de Machado de Assis, mas guardo boas lembranças deste quote que já esteve no meu falecido fotolog.


terça-feira, 11 de maio de 2010

the breakfast club



Saturday, March 24,1984. Shermer High School, Shermer, Illinois, 60062. Dear Mr. Vernon, We accept the fact that we had to sacrifice a whole Saturday in detention for whatever it was we did wrong. What we did "was" wrong. But we think you're crazy to make us write an essay telling you who we think we are. What do you care? You see us as you want to see us - in the simplest terms, in the most convenient definitions. You see us as a brain, an athlete, a basket case, a princess and a criminal. Correct? That's the way we saw each other at 7:00 this morning. We were brainwashed.

The Breakfast Club, conhecido por aqui como O Clube dos 5, poderia ser apenas mais um filme adolescente. Mas, não, é muito mais que isso. É inquietante, engraçado e, ao mesmo tempo, reconfortante. Enfim, mais um filme que deixa uma sensação em mim. Se boa ou ruim, isso não importa.


família, ah!

I
Rogério, solteiro, 38 anos e já quase não tinha cabelos no topo da cabeça. Calvice, herança familiar, recessivo na parte do pai, dominante nos genes da mãe. Gostava de jogar bola, mas a barriga, que lhe impedia de tocar os próprios pés, o impedia de ter um bom desempenho em campo. Tendência a engordar, puxou do lado paterno: senhor Afonso, 65 anos e mais de 100 quilos. “Ê, Rogério, por que não rola junto com a pelota?”. O pessoal do escritório ria.
Coitadas são as nossas famílias. Mesmo tendo as melhores das intenções, a culpa de todas as nossas frustrações sempre recai sobre os nossos parentes. Culpa de nossa família, que nos acolhe ou nos expulsa, que nos agrada ou nos repudia.
Era assim. Rogério sempre se sentia claustrofóbico entre as pessoas que passeavam naquela sala apertada. Fumaça de cigarro, cachimbo. Mais tarde culparia o vício paterno e as reuniões familiares pelo câncer na faringe que viria a ter e pelo qual morreria. Em sua mente, ele ironizava a risada retumbante de seu velho pai e a maneira com que Dona Madalena, bonita, olhos azuis vívidos, tentava agradar a todos. Quando chegara, foi recepcionado com aquele carinho típico de mãe. “Mas, meu filho, está cada vez mais gordinho, não?”. Risadas. Fora o primeiro golpe na auto-estima, a primeira casca que soltara da proteção que sempre construía e onde aprisionava um monstro furioso.
Sentado, perto da estante de livros, estava o tio que todos consideravam inválido. Já bastante idoso, mas sem perder aquele brilho inteligente que todo bom leitor sustenta em seu olhar. Alberto usava óculos finos, pousados na ponta de seu odunco nariz. Quase não falava. Nada demais para um velho. Seu silêncio era apenas interrompido às vezes para uma risada singela, sarcástica. Os olhos dos dois homens, em lados opostos da sala, se cruzaram e, junto com o cheiro de pele já idosa, veio a frase “eu também os odeio...”, que ressoou durante todo aquele feriado natalino, como o consolo de que nem todo ódio é único.

II
Você ligou para a residência do Rogério. Favor deixar o recado após o sinal... BIP

Olha, filho. Eu sei que você não gosta de nossas reuniões familiares. Percebo em seu olhar, o modo como foge de meu carinho, como não gosta que eu fale de sua barriguinha na frente de seus tios. Falando nisso, que barriguinha, hein? Lembro de quando a mordia, junto com as dobrinhas do bebê gordinho que você sempre foi. Você vai ser, para sempre, o meu bebê, tá? Tô ligando para dizer que aquele seu tio, o Alberto, morreu. Pois é. Estava inválido já, o coitado, não? Tinha cheiro de gente velha, as vezes eu pensava ver poeira em suas rugas. Enfim, morreu feliz, dormindo na casa de repouso. Percebi que conversaram no último natal. Percebi que vocês se aproximaram naquele feriado, por isso achei que eu mesma precisava te dar esta notícia. Falando nisso, como vai aquele probleminha na garganta? Você precisa ir ao médico, menino! Eu sei que já é grandinho, que já tem 38 anos e bla bla bla, mas sou mãe e o meu coração fica apertado. Estou tentando convencer o seu pai a parar de fumar cachimbo. Deve ser por isso que você tem essa voz tão rouca, o Afonso fumou tanto durante a sua infância. E a análise, como vai? Os probleminhas com a auto-estima, como vão? Espero que bem, lembro de quando você explodiu naquele domingo. Era outra pessoa, era um monstro, não o reconhecia. Ai, filho, desculpa falar assim, dessas coisas agora. É que estou preocupada. Só espero que a morte do Alberto não piore a sua situação. E o pessoal do escritório? Ainda rindo da sua pancinha? Espero que o futebol de quinta-feira esteja fazendo efeito sobre o seu peso. Outra coisa, comprei um remédio para calvice ótimo, um que eu lembro que o meu pai usava. Ele faz crescer cabelo! É ótimo, meu filho. Estou mandando amanhã mesmo, tá bom? Bom, vou indo. O velório vai ser hoje, durante a noite, e o enterro amanhã. Apareça se puder. Te amo, filhinho querido, piquituxo da mamãe.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

So stay there
'Cause I'll be comin' over
And while our bloods still young
It's so young, it runs
And we won't stop til it's over
Won't stop to surrender

terça-feira, 27 de abril de 2010

:)

Mexi na minha gavetinha de lembranças. Tirei, delicadamente, a foto com o cachorro São Bernardo de cima das outras coisinhas e a desdobrei. Estava amassada, mas não deixava de ser linda com os rostos sorridentes dos jovens agasalhados. No canto, estavam as três caixinhas de veludo: a verde, a vermelha e a azul, com o anel esquecido. Em meio aos papéis, desenhos de um tempo em que era divertido desenhar, uma flor ressecada pelo tempo mas ainda cheirosa e três envelopes de carta. Duas delas, eu lembrava que existia. Mas uma delas, no envelope mais bonito, eu tinha esquecido a existência. Aquela tinha sido a primeira carta do começo dA AMIZADE e e terminava com um doce "churumela xD". Voltei a 2006, era bonito, cheio de conversas madrugais e a máxima soulmates never die. Verdade ou não, aquele foi um ano lindo, de pessoas importantes, de primeiras vezes e repleto de sentimentos. Devolvi as cartas aos seus lugares originais. As guardei junto com um sorriso nostálgico.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

lost at sea, as i should be

The mystery of salt and sea oh ho ho
Has never been intriguing oh ho ho
And to me but the sea
Green is set so beautifully
Against your thoughtful face
That I must close my eyes
And turn my face

Still floating soft
I am dreaming and I'm glad I lost
And still with my fingers
I'm drawing circles in the water
In the water
And still, still you're always there

lost at sea - eisley

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Everday feeling all of the magic in life and wonder...



Eisley - Marvelous Things

Darth Stevo | Vídeo do MySpace

Dark night, hold tight, and sleep tight
My baby
Morning light shall burst bright
And keep us here safely

I followed a rabbit
Through rows of mermaid entwined Shrubbery
Ah ah....
Oh what marvelous things but, they are, they are, they are
Giving me the creeps

______________________
Talvez, uma das coisas mais doces que já escutei, foi um colega dizer que esta música o faz lembrar de mim.

E ela me pegou assim, fácil.


ps: a qualidade está péssima, mas preste atenção apenas na canção.

...

Ás vezes, quando a noite cai, a cabeça enche. É muito passado, é muito presente, é muito futuro para se pensar. A vontade de largar tudo lhe sobe a garganta, junto com aquele nó que não desata nunca. E os olhos molham mornamente, junto com a ardência salgada típica. Por trás do riso solto, vivia a melancolia. Sentia saudades de tantas coisas, que as vezes esquecia das quais. Ansiava a volta daquele conversa entre amigas, daquelas ligações no meio da tarde, daquele amigo cibernético, daqueles tempos madrugais. Por isso, ligou o rádio e foi deitar-se. Aquele era seu refúgio: os lençóis amassados pela noite anterior e a voz doce que saía das caixas de som. Seu maior problema foi crescer.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

marvelous things

Os rostos estavam próximos, mas não o bastante para se tocar. O que valia, naquele momento, era o simples roçar, era a temperatura do rosto do outro e sentir a presença dele mesmo que estivesse de olhos fechados. A boca secava, o coração disparada. Uma doce espectativa que a fazia sorrir. Um sorriso sincero, quase infantil. Um misto de doçura com esperteza. Era bom assim. Por se sentirem próximos, se saciavam.

...

O frio lhe batia a face, que avermelhava. O nariz sardento já estava rosa, mas ela não ligava. Gostava daquela sensação e se escondia embaixo do cachecol. A lã fazia cócegas e lhe dava vontade de espirrar, mas isso não atrapalhava o pouco aconchego. Era assim, todos os dias, enquanto andava o seu caminho costumeiro. Os mesmos passos, o mesmo sono, o mesmo céu. Mas, a cada dia, era uma garota diferente que sentia os pés gelarem dentro do par de tênis surrado. O mesmo par que, há pouco tempo, era acompanhado por outro par de All Star gastos e cheio de histórias. Era assim a vida, não? Estava sozinha, mas embaixo do braço carregava um livro. Não era nada de especial, mas falava de uma noite longa, música e tinha boas piadas. Era assim, se apegava a uma história e queria vivê-la, de qualquer forma. Se imaginava dentro de um furgão, viajando embaixo do céu estrelado. Sozinha. Era uma alma solitária, apesar de estar sempre acompanhada por zilhões de pessoas. Era ela, sua mente e seus tênis. Ela gostava da companhia deles, e eles gostavam do balanço de seus cachos. Talvez seja por isso que todo mundo insistia em chamá-la de autista... e ela gostava de ter seu próprio mundo embaixo de seu cachecol aconchegante.

yep, my mind is dangerous...


quarta-feira, 31 de março de 2010

babaquice mode [on]

X: sabe o que eu estava percebendo?
K: o que? oo
X: as imagens que gosto costumam ser tão diurnas
e as suas tão noturnas
ahahaha
K: Hahahahahaaha
é a trevosidade
X: eu tenho uma personalidade muito solar pra ti
K: nooot [hm]
X: vc vai queimar com o meu soooool
SEU VAMPIROZINHO
K: vocÊ faz minha noite brilhar =~~
K: mimi =~~
X: OUN (L)
K: ^^

terça-feira, 30 de março de 2010

Reflections of a Skyline

Você pode ser moderno, ter um relacionamento aberto, ser conservador, querer se casar, não querer se casar, ser homossexual, heterossexual, pansexual, frígido, putão/putona, loiro, moreno, ruivo, brasileiro, americano, jovem, velho, negro, branco, difícil, fácil, se apaixonar fácil, nunca se apaixonar, bonito ou feio, mas, com certeza, você ama deste jeito:


Vídeo lindo. Talvez a melhor definição do que é amar.

quinta-feira, 18 de março de 2010

breve #17

O que é pior: a perda da intimidade ou a falta de amor?

terça-feira, 16 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

breve #16

As vezes, só consigo achar os meus pensamentos nas palavras de outros.

...


quarta-feira, 3 de março de 2010

breve #15

Garotos, vou deixar um recado para vocês: não me fale coisas bonitas só em momentos tristes, porque quero lembrar delas com um sorriso no rosto e não com um aperto no coração. Beijo.

breve #14

Devo ser dramática por não aguentar o tédio.

breve #13

Não sei porque, mas
em meus sonhos
os balões são sempre amarelos
os choros, so-lu-ça-dos
os beijos são doces e
o (seu) toque, aveludado.

divã

As unhas meio comidas, o anel predileto no dedo indicador. Lá fora, a cidade passava no início de seu descanso, enquanto a caneta deslizava em garranchos no caderninho. Nunca foi uma garota de contos. Sempre gostou das emoções sentidas, dos beijos beijados, dos abraços dados. Não se importava com o sacolejo do ônibus: a música tocava calma em seus fones de ouvido e usava seus sapatos mais confortáveis. Ela gostava de seu trajeto para casa, era um momento só seu. Era ela, sua playlist infinita, um livro embaixo do braço e o bloquinho de notas. Melhor do que em um divã, na folha em branco, ela se descascava em pingos dos ís e em curvas dos cês.

Mãos

A mão dela encontra a minha e, de imediato, estou sendo guiado. Estamos penetrando a multidão que tomba e troveja, e nossos braços são como a ponte mais frágil, sustentada por nossas mãos. Eu penso, Se ela soltar, está tudo acabado. Se eu soltar, está tudo acabado. E como ela está segurando com muita força, eu seguro bem forte também. Sou jogado para todo lado – sei que amanhã terei hematomas -, mas de algum modo este aperto de mãos está imune. De alguma forma, ficamos juntos. Somos abençoados e estamos Juntos, e o pareamento é um trunfo sobre a solidão, a dúvida e o medo. Estamos passando por isso. Obrigado, Música. Vão se ferrar, lembranças. Obrigado, presente.

Trecho do livro Nick and Norah's Infinite Playlist

terça-feira, 2 de março de 2010

breve #12

desculpa se sou dramática, mas, enquanto fico aqui embaixo deste cobertor, eu e minha cabeça conflitamos. afinal, eu sou a minha maior inimiga.

uma carta para um individuo

te amo, sem saber porque. te odeio por me fazer dizer isso quando estamos cada um em sua cama, e, em vez de um sorriso, lágrimas molhando o rosto. quero ser a sua home. que nem naquele filme que assistimos. te espero aqui com os meus braços abertos para te abraçar. porque, parafraseando a rita, abraçar é encostar dois corações. e quero encostar o meu coração no seu. você me faz mais feliz mesmo com este seu jeito tortinho e eu gosto da sua presença mesmo com este meu jeito implicante. você sempre faz eu rir mais um pouco. a minha tristeza pode ser crônica, mas o seu cafuné me aquece na minha caverna de gelo.

obrigada por tudo.

e um dia surrupio uma camiseta sua só para me fazer companhia nos dias que eu estiver com medo do coelho Frank...

ps: nunca mais me faça te pedir em namoro. quero ser donzela da próxima vez...

breve #11

mas que bosta, mas que bosta, mas que GRANDE BOSTA.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Eu sou Imprensa - A MÚSICA

Vou entrar pelos bastidores
Como um agente secreto
Eu sou imprensa (2x)

Então vou fazer uma resenha
Sobre Pablo Neruda
Eu sou imprensa (2x)

Depois vou ir jantar
No restaurante oriental
Eu sou imprensa (2x)
por Chini

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

arrebatadora

ela comprou os sapatos perfeitos para pisar em corações alheios...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

who am i


sobre o (monstro) relacionamento

relacionamento é uma parada sinistra. sua cara feia, ranzinza e seu temperamento irregular assusta a muitos, e a única forma de se 'proteger' é vestir a capa da racionalidade. mas isso deixa tudo tão sem graça, não? se já estamos emocionalmente vulneráveis ao nos entregar a este bicho, por que não nos deixamos levar pelo balão de gás que se instala no peito de todo apaixonado? por isso o primeiro amor é lindo. os pombinhos ainda não conhecem a cara verruguenta de um relacionamento: os sorrisos são radiantes, os olhos alegres, mas o monstrinho está ali por perto e, quando morde, seu veneno entranha, corrói, machuca, para sempre. por isso, em vez de vestir a armadura, nos resguardar, deveríamos nos fortalecer, criar anticorpos e correr descalço para o abraço 'mortal' de um relacionamento, viver um eterno 'primeiro amor'. mas acho que ainda não estamos preparado para isto. maldita humanidade.

breve #10

Intimidade são mãos que se fundem, sem precisar de razões ou justificativas...

E. G.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Enquanto isso na redação...

Atchim!

Atchim!

Atchim!

- Tenho alergia a vocês. Sempre espirro mais aqui...

tec tec tec, fez a redação.

- Vou começar a usar uma bolha de plástico de proteção, que nem o Jimmy Bolha...

O chefe da menina olha para ela, meio curioso.

- Aí, como terei necessidades especiais, o jornal terá que se adaptar a elas e aparecerei na novela das oito como um exemplo de superação.

O chefe abaixa a cabeça, tentando lembrar do porquê de tê-la contratado. Agora parece tão irreal...

- E como você será revoltadinha vai ficar jogando papel, lápis, caneta na gente, não é mesmo? - ele disse

- Exatamente. E vocês não poderão fazer nada, pois serei PORTADORA DE NECESSIDADES ESPECIAIS. Além de que a bolha de plástico me protegerá... - ela fala sério, enquanto termina de fazer seus afazeres.

- De onde ela tira esse tipo de coisa? - o chefe pergunta à outra estagiária.

ATCHIM!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

mixtapes


I want to drive all night with you, listening to mix tapes, not caring where we end up... Let's ride anywhere and don't care... Just don't care...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

breve #9

sinto que nunca vou senti-lo meu...

tudo o que é meu...

ando diferente. essa não sou eu. ei, você que se apossou do meu corpo, devolva-me. quero ele de volta sem essas babonices. nunca fui babona... não o serei agora. quero tudo de volta, os olhos castanhos esverdeados, a boca bicuda, as buchechas salientes, os dentinhos da frente. também quero que devolva a verruguinha nas costas e as covinhas do rosto. tudo isso empacotado, equilibrado, revisado. trate de ficar com estas aflições, isso não é meu, mas a sardas, sim, essas são minhas. tudo bem organizado, viu? nada fora do lugar. não esqueça da largatinha... essa mesma, a cicatriz no braço. mas, principalmente, devolva-me a confiança... ela faz falta.

breve #8

Nova Mensagem e o nome dele logo abaixo. meus olhos sorriem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

breve #7

ás vezes o choro vem assim, acumulado, desesperado, soluçado. parece que abriram a torneirinha e tudo quer sair de uma vez só. calma, garotas, todas as dores terão sua vez...

Lembranças infantis

Era 2000. Eu ainda morava na Rua dos Ourives. Ourives que depois, no auge dos meus 11 anos, fui descobrir que eram os artesãos que mexiam com ouro. Aquilo foi uma grande descoberta para mim. Enfim, era a Rua dos Ourives, condominio Veneza. Morávamos no 14º andar. Uma altura razoável e dava para ver a Imigrantes ou a Anchieta, não me lembro muito bem. Também era perto do zoológico e do parque estadual. Eu morria de medo do parque porque foi lá que o maníaco do parque matou todas aquelas moças. Enfim, era a Rua dos Ourives, condominio Veneza, ano 2000. Eu, ainda com o uniforme do Visconde de Itaboraí, colégio onde fiz a quarta série. A camiseta era branca, com um grande V em vermelho. O shorts era cinza meio claro, com duas linhas ao lado: uma também vermelha e outra branca. Eu vivia com este uniforme, eu o adorava. Ele era tão diferente dos azuis convencionais. Enfim, eu estava em cima do sofá daquele apartamento minúsculo da Rua Ourives. Meu irmão, então com 17 anos, estava com um desodorante na mão. What I Got, do Sublime. Era isso o que cantávamos. As meias nos pés, outro desodorante na mão. Dividíamos os vocais. Éramos uma dupla muito boa: ele, garoto franzino, ombros ainda em formação, cabelo molhado e bagunçado, uma pinta de nascença no pescoço. Eu, cabelos loiros cacheados em uma muvuca total, barriguinha saliente e sem nenhuma malícia. Aquela sala era o nosso palco e a varanda, o nosso público. Cada verso, cada acorde era uma diversão a mais. O número musical era estupendo: tinha fogos de artifício, público gritando e todos os instrumentos em total harmonia. Era divertido imaginar tudo aquilo. E pensar que começara de forma tão boba, com o meu irmão fazendo alguma besteira para a irmã mais nova dar risada. Era assim. Apesar de ter convivido tão pouco tempo, aquele menino sempre fora o meu predileto. Todos os dias ele me levava e buscava na escolinha. Cada dia uma história diferente. Mas ás vezes ele sumia e um carro com luzes o trazia de volta. E a minha mãe... ah, a minha mãe gritava com ele, mas depois o abraçava. Um dia, porém, o carro com luzes veio sem ele e não o vi por pelo menos dois anos. Outro dia, então,ele foi me buscar na escola. Eu, de saia plissada, chorei quando o abracei. Mas daí foram mais três anos ausentes, mais quatro, por fim, foram oito anos. Quando ele voltou, encontrou a menina desgrenhada usando roupas pretas e maquiagem escura. De mãos dadas com um cara de 2 metros e passava noites fora. Eles não se conheciam mais. Mas se amavam, se amavam como irmãos que cresceram juntos e se cuidaram. Até que no dia, o mesmo que ela brincou que o carro que ele usara na noite anterior cheirava a sexo, ele não voltou mais. Ela não ouvia mais a risada dele e não via mais a manchinha no pescoço. Mas a Rua dos Ourives, o ano 2000 e What I Got do Sublime voltaram10 anos depois, quando eu estava indo para mais um dia de trabalho...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

breve #6

Ela acordou assustada, virou para a parede e começou a chorar. Entre os soluços, escutava uma voz rouca, porém branda, de quem acabou de despertar. O rapaz perguntava o que havia acontecido, enquanto a abraçava pelas costas. Com o rosto já molhado pelas lágrimas grossas ela só conseguiu sussurrar que tinha sido um sonho ruim. Deixa eu me acalmar... Ela odiava quando tinha pesadelos e esquecia que só estava sonhando, que nada daquilo era verdade. Enquanto isso ele afagava os seus cabelos revoltos e esperava a respiração da garota voltar ao normal. É, o cara que me tratava tão mal no sonho não pode ser o mesmo que me abraça agora... Ela fechou os olhos e beijou o braço dele enquanto sentia a última lagrima escorrer até o travesseiro.

devagar, divagando...

'Talvez seja isso'
Sentada no banco de praça, vendo os transeuntes passar, ela pensava. Simples assim. Ela pensava como nunca tinha deixado de pensar. A garota, dos tênis surrados e dos fones de ouvido, sempre considerara que este era o seu maior defeito. Pensava tanto que ela acabava esquecendo do porquê de estar pensando. De perder tempo por estar pensando ela sentia que o mundo acontecia sem ela. Por ficar divagando, devagar, ela percebia que poderia estar sentindo muito mais do que estava. Talvez se ela desamarrasse aquela cordinha que a prendia ao chão..... 'Oh, não... perigoso demais.' Autopreservação. Outro de seus problemas. De pensar e de se autopreservar ela não experimentou o gosto da terra quando criança, não comera caquinha de nariz, não pulara do trepa-trepa. E de pensar e de se autopreservar ela acredita que nunca voltará a se apaixonar. 'Posso me esconder agora?', ela perguntou, por fim. O que ela não sabia é que já estava se escondendo há muito tempo. Aquela pulga atrás da orelha, aquela desconfiança excessiva nunca a deixara brincar de viver.

*---*

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

the life fucking hurts...

Andrew: Fuck, this hurts so much.

Sam: I know it hurts. That’s life. If nothing else, It’s life. It’s real, and sometimes it fuckin’ hurts, but it’s sort of all we have.

(Garden State)

De todos os quotes de filme que conheço, talvez este seja com o qual eu mais concordo. Garden State mexeu comigo. Não sei exatamente em que, mas algo em mim mudou. E não é nada ruim, é algo bom, realmente bom. Talvez, apesar de ter vontade de morrer um pouco e esquecer o mundo, vivê-lo também seja uma boa opção.

where the wild things are

Estou completamente apaixonada. Pelo Max vestido de lobo, pelo devorador Carol e por todos os outros monstrengos que só ficam cada vez mais doces enquanto Where The Wild Things Are passa na tela do cinema. Quero todos eles pra mim, até mesmo o Buffalo com cara de bravo. Eu os apertaria, morderia, dormiria amontoada e seríamos felizes para sempre, para sempre. Um dia eu encontro esse menino-capeta vestido de lobo e pergunto qual é o caminho para a ilha dessas coisas mordíveis. Quero também ser regente de um lugar só meu, para onde poderei fugir quando eu acabar mordendo alguém que amo muito.

Estou tão apaixonada que poderia devorá-los.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Patati, patacolá

Patas sabem andar, mas não como gente. Sabem voar, mas não como pássaros. Sabem nadar, mas não como peixes. Patas sabem fazer tudo, mas não são especializadas em nada. Servem de abrigo para os filhotes e alegram as crianças com o seu jeito desengonçado. Eu sou uma pata. Não sou notória/impressionante/graciosa em nada. Ando pelo mundo a passos incertos e sempre assustadiça. Conquisto os meus pela minha espontâneidade de rir dos meus próprios problemas e pelo meu jeito atrapalhado de levar a vida. Se você não gosta de patos, não sei o que está fazendo aqui.

Quack.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

this is what i'm doing...

farther leads to you
sink and whine
livid cries
I'm still in line
loose me
I cling to this
I know it's on you
it's around
this time I will be calm
see it in time
as far as I know
you will be with me
as I whine


lose me - denali

lapso noturno


Ás vezes eu sinto um comichão que vai do centro do meu peito para as pontas dos dedos das minhas mãos e pés. É uma vontade louca de colocar o pouco da minha vida dentro de uma mochila e sair por aí. Pegar um ônibus para lugar nenhum, sentar onde nunca imaginei que sentaria e conversar com pessoas que não conheceria em outra situação.
Tenho vontade de juntar os meus amigos para andarmos pela noite sem qualquer rumo. Encontrar em cada casa, cada poste um motivo para risadas e um pouco de diversão. E no meio dessas risadas sentir a mão de alguém segurar a minha e então trocarmos o melhor dos sorrisos.
Dentro de mim se encontra a insatisfação de estar parada. A insaciedade de estar sozinha.
Quero abraçar o mundo mas os meus braços não são grandes o bastante. E sou covarde para entregar o meu coração a ele.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ano novo, novo ano

2009 foi um ano de muitas reviravoltas. Algumas boas, outras nem tanto. E de tantas reviravoltas eu acabei me cansando e perdendo os sentidos, perdendo o rumo. Por isso, a minha principal "resolução" para 2010 é conseguir acertar a agulhinha da minha bússola, descobrir quais são os meus reais objetivos e respirar fundo para um recomeço. Dar o restart na minha cabeça e me focar nas coisas realmente importantes. Não me cobrar tanto, não me preocupar tanto. Comprar um óculos, cuidar melhor da minha saúde e voltar a fazer as coisas que gosto. Conversar mais com as pessoas, olhar mais para o céu e me deixar levar pela brisa noturna. Manter mais contato com os meus amigos, não depender (emocionalmente) tanto das pessoas e brincar mais com o meu cachorro. 2010 será o ano em que olharei para as pequenas coisas e esquecerei um pouco das grandes.
And you know I'm fine
But I hear those voices at night
Sometimes that justify my claim

The star maker says it ain't so bad
The dream maker's gonna make you mad
The spaceman says, 'Everybody look down!
It's all in your mind'

spaceman - the killers

em off

Mesmo sendo um tanto bobo, gosto de viradas de ano.
Já se foi 2009. Ano bizonho, gosmento e lerdo.
Chegou 2010. Façamos desse um ano melhor! :)

E para isso, mudança de banner.