quarta-feira, 23 de junho de 2010

Apanhado

Vou escrever um diário endereçado ao futuro. Ele será a máquina do tempo que me ligará à posterioridade. Vou escrevê-lo para os meus netos, bisnetos. Sem desenho na capa, sem pauta, largarei a minha alma em palavras e rabiscos.

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Desesperar-me um pouco diante da solidão não me faz mais fraca que ninguém, me faz humana do jeito mais livre que posso ser.

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O corredor era longo demais para percorrer sozinho. Tinha saudades daquele tempo em que, sentar ali e rir, era um descanso pr'alma. Hoje está todo mundo ocupado demais para isso. Ela se sentiu sozinha diante daquelas paredes cinzentas.

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Sinto ciúmes de seu passado, presente e futuro. Sinto ciúmes de todos os seus tempos verbais e de todas as suas flexões do verbo amar. Quem me dera que todas elas fossem para mim.

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Pensar que o amor é a única coisa realmente boa que o ser humano tem a dar ao mundo faz com que eu me sinta egoísta por querer ser a única e querer ter um único.

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Quero um desenho cheio de marcas, palavras, desenhos. Quero um caderno que ninguém possam ler a não ser eu. Quero tornar palpável a minh'alma em palavras.

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Sardas são pontos de personalidade marcados em pele

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Este mundo é carnal demais pra mim. Sou imaterial demais, sou pura incerteza. Talvez, de fato, eu não pertença a este mundo, eu não pertença a nada. Sinto-me só em minha diferença.

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Quem me dera morrer de mojito. Mergulhar-me em rum, hortelã e soda. Sentir-me quente e fresca por dentro, naquela pista de dança vazia. Quem me dera poder ler a sua mente.

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Sometimes I get nervous, when I see an open dor. Are we human or are we dancer?

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Na ponta da pena estremece os corações dos tolos.

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Receber elogios pecualiares era a sua especialidade. O primeiro foi de um professor de História da Arte, dissera que seu rosto parecia o de uma pintura renascentista. Depois, o dono de um sebo exclamou que seu rosto parecia ter saído de um quadro de Da Vinci. Por fim, o gótico lhe dissera que seus traços tinha tons vitorianos. No ônibus, por estes dias, lembrou, então, que, quando criança, um médium dissera que o seu espírito era antigo demais. Talvez, ela realmente não pertencesse àquela época.

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Não entendia um mundo em que aquela mesma pessoa que se lamentava por passar o dia dos Namorados sozinha, nos outros dias do ano orgulhava-se do número de corações em que pisou.

Um comentário:

K disse...

Engraçado como consigo ver você, nos seus tons melancólicos em cada uma das cenas, observando o mundo, sentada, vagando, com cachinhos a balançar pelo rosto... São doces as palavras que deixa para a eternidade, com aquele gostinho amargo que só você sabe dar.
Faço de algumas citações tuas, minhas. Da mesma forma que você faz do teu sorriso, o meu.