segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

é bomba, é relógio.

Querido Harry,

Tem gente que conta carneirinhos para cair no sono, eu conto batidas de coração. Falando assim, parece piegas, mas foi intrigante quando percebi que, quando você me abraçava por trás antes de dormir, eu podia sentir as batidas de seu coração em minhas costas encostadas em seu peito. Costumo comparar com a sensação de segurar um passarinho: é delicado, palpitante, e vivo, muito vivo. O engraçado é que eu descobri isso me certificando que você não havia morrido durante o sono (você sabe que eu sou meio mórbida). Foi, no mínimo, divertido sentir vida em um momento que eu esperava a morte. E todas as vezes que sinto seu coração acariciando minhas costas eu fico feliz por você existir, mas fico triste por isto me lembrar que você é humano, feito de carne, sangue e ossos. Dependente de um órgão que o da galinha a gente come espetado em um espetinho. Um órgão que é uma bomba e é um relógio: que pulsa vida por seu corpo e que tiquetaqueia, em seus compassos, o tempo que você tem e que lhe resta. É duro se dar conta de nossa fragilidade.

Só queria compartilhar estes pensamentos que, todos os dias, me esmagam. E explicar porque eu te encho tanto para dar uma corridinha na esteira e/ou visitar o cardiologista. É seu coração que me acalma quando entro neste redemoinho de pensamentos e é no ritmo dele que eu tento entrar quando me deixo adormecer.

Boa noite.