O álcool lhe dera aquela zonzera na cabeça e lhe secara a boca. O trem balançava ao som da música que lhe enchia o cérebro zoneado. Os olhos, embaçados, estáticos, estavam muito além do que aquele vagão sujo. Era tudo tão torto, cheio de curvas brilhantes que lhe fazia perder a concentração. Se segurou no banco quando viu que, sem querer, tombara um pouco para o lado do moço que estava sentado ao seu lado. O barulho irritava mas aquela dormência nas articulações o fazia esquecer do som ultrajante. O álcool aspirava todos os pensamentos subjetivos e deixava somente os mais claros. Potencializava os sentimentos, lhe enchia os olhos de alegria e de tristeza, tudo ao mesmo tempo. Não se importava se as pessoas estavam olhando-o desconfiado. Era quinta-feira, os olhos injetados entregava a farra que tivera há pouco com alguns amigos. Amanhã, mais um dia cheio de obrigações. Mas, por enquanto, a zonzera o fazia esquecer que, mais uma vez, outra vez, estaria pegando o metrô no sentido contrário, ouvindo aquela mesma playlist. Gostava daquela sensação, mas ela a incomodava. Gostava de sentir as coisas como elas eram e ele sabia, apesar daquele teimosia típica de bêbado, que estava enxergando o mundo, naquele momento, diferente do que enxergava normalmente. Estava tudo mais simples, mais claro, mais vivo dentro de si. Estava feliz, apesar de algumas adversidades. Mas estava solitário, apesar do vagão cheio às 23h. Era a zonzera, era a vontade de chegar em casa e tirar a roupa do trabalho. Era a felicidade de ter passado bons momentos, era o frio dos lençóis amassados e do cinzeiro lotado. E ela não estaria lá para rir ou dar bronca por causa do seu bafo alcoolizado. Ela estava em outro lugar, além de seu toque. Além de sua bebedeira.
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